quarta-feira, 29 de junho de 2011

RESUMO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA HOSPITALAR NO CONCELHO DE TONDELA - 4

A ENFERMARIA ABRIGO (SANATÓRIO) DA MISERICÓRDIA

Foi por iniciativa de Rosa Pinto que a Sociedade de Beneficência adquiriu no Caramulo uma casa para adaptar a Sanatório para tratamento dos tuberculosos pobres do concelho. Tratva-se de uma propriedade urbana com quintal denominada Casa de Saúde da Fonte dos Castanheiros, situada em Paredes do Guardão, da qual era proprietário o Senhor Alfredo Basto Magalhães que a cedeu pela importância de 230 mil escudos.

Em Maio de 1952 já as obras de adaptação do novo Sanatório – ou Enfermaria Abrigo do Hospital, como passou a designar-se –, estavam concluídas. Era necessário somente dotar este Sanatório com 10 quartos para doentes e excelentes áreas de apoio, com o equipamento fundamental ao seu funcionamento. Não foi difícil e o Hospital apenas teve que investir a módica importância de cerca de 6 mil escudos, porque um grupo de beneméritos se encarregou de mobilar condignamente aquela nóvel extensão de saúde do Hospital de Santa Maria.


Em 20 de Abril do mesmo ano, sob a Presidência do Governador Civil do Distrito em representação do Ministro do Interior, é Inaugurado este Sanatório do Caramulo.


terça-feira, 21 de junho de 2011

RESUMO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA HOSPITALAR NO CONCELHO DE TONDELA - 3

1.3 - O Hospital de Santa Maria de Tondela


O Hospital de Santa Maria de Tondela foi, como já referimos, inaugurado no dia 18 de Julho de 1915, numa modesta cerimónia, sem figuras públicas de destaque, sem corte de fitas, descerramento de lápides ou mesmo grandes discursos. Apenas se regista que o Dr. Fernando de Figueiredo, então Presidente da Assembleia Geral da Sociedade de Beneficência de Tondela, na sua alocução referiu que “achando-se este estabelecimento hospitalar nas condições de poder desde já receber doentes, e tendo-se marcado previamente o dia de hoje para se fazer a sua inauguração e abertura, assim o comunicava a todos os presentes

.

Passam a trabalhar neste Hospital alguns Médicos residentes em Tondela, sob a liderança do Doutor Jerónimo Lacerda, médico que até à hora da sua morte sempre esteve ligado a esta obra, e que viria a ser o impulsionador da criação da Santa Casa da Misericórdia.


Em 1916 é tomada a decisão de abertura do Hospital a todos os médicos municipais, podendo estes, querendo, tratar ali os seus doentes. Os doentes pensionistas seriam tratados pelo médico de sua escolha, e os pobres que fossem internados sem médico assistente seriam tratados pelo Doutor Jerónimo Lacerda, que em conjunto com o Dr. Abel Maria de Lacerda assumiam a Direcção Clínica do Hospital.


Foram também Directores Clínicos do Hospital de Santa Maria, o Dr. António Marques da Costa, o Dr. Júlio Augusto de Melo Cabral e o Dr. Manuel Martins de Queiroz.


No ano de 1949 e face ao elevado movimento assistencial do Hospital de Santa Maria, foi verificada a necessidade da sua remodelação e ampliação.


O Hospital de Santa Maria de Tondela, em Agosto de 1931


2. O SONHO DE UM NOVO HOSPITAL

O Senhor Ministro do Interior visita o Hospital no mês de Agosto de 1949, inteirando-se da precaridade do funcionamento dos Serviços. Foi opinião deste membro do Governo e dos serviços técnicos, que deveria pensar-se na construção de um edifício novo “com todos os modernos e necessários requisitos”, nos terrenos anexos ao Hospital actual, com a frontaria voltada para a Avenida Marechal Carmona (hoje Avenida General Humberto Delgado), destinando-se o antigo, depois de devidamente adaptado, a um asilo.


Após a elaboração e aprovação do projecto, em 10 de Março de 1951, a Mesa Administrativa presidida pelo Senhor António Rosa Fernandes Pinto, delibera iniciar uma campanha para um Cortejo de Oferendas e organiza a Comissão Executiva deste. O Cortejo foi realizado em 19 de Outubro de 1952, mas já o novo Hospital se encontrava em construção desde Junho desse ano.


Foram publicados anúncios para para o concurso de construção, cuja arrematação teve lugar em 15 de Março. Nesta arrematação apareceram cinco concorrentes e foi ao arrematante Sociedade Técnicas de Empreitadas, com sede em Viseu, que a obra foi entregue. A proposta desta empresa é de 2.029.950$00.


A inauguração da nova unidade hospitalar – o Hospital da Misericórdia de Tondela -, teve lugar no dia 4 de Setembro de 1955, com a presença do Ministro do Interior, Sub-Secretário de Estado das Obras Públicas e do Prelado da Diocese de Viseu.


Em 19 de Outubro, coincidindo com a data em que 3 anos antes se realizou o Cortejo de Oferendas, procedeu-se à transferência dos doentes do velho Hospital e ao lançamento simbólico da primeira pedra destinada à construção das 3 primeiras casas de renda económica oferecidas pelo Senhor Comendador Alberto Cardoso de Matos, nesta altura Presidente da Assembleia Geral da Misericórdia.



RESUMO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA HOSPITALAR NO CONCELHO DE TONDELA - 2

1.2 - A Misericórdia de Tondela

Não se pode afirmar que a Santa Casa da Misericórdia de Tondela tenha nascido e crescido com a tranquilidade com que nasceu a primeira Misericórdia e tantas outras que se lhe seguiram.

Para percebermos melhor, teríamos que fazer um longo historial sobre os factos que levaram ao encerramento do Patronato, dos conflitos com a Enfermagem Religiosa, e outros que levaram à instauração de um inquérito, em 1947, à Comissão Administrativa da Sociedade de Beneficência de Tondela, a qual era acusada de revelar um grande desinteresse pela gestão do Hospital.

Com a conclusão do inquérito é nomeada superiormente, em 27 de Julho de 1948, uma nova Comissão Administrativa, constituída pelos Senhores António Rosa Fernandes Pinto, Eng.º Sérgio Pereira da Silva, Caetano de Matos Rodrigues Tapada, Fernando Teixeira e José de Matos Laranjeira.

Aprovado o Compromisso da Santa Casa da Misericórdia de Tondela por despacho do Senhor Subsecretário de Estado da Assistência Social, de 25 de Maio de 1952, é extinta a Sociedade de Beneficência de Tondela, passando todo o seu património para a posse da nova Misericórdia, a qual só em 12 de Dezembro de 1954 elege os primeiros Corpos Gerentes, sendo governada até então por uma Comissão Administrativa que toma posse perante o Governador Civil do Distrito em 23 de Agosto, constituída pelo Provedor, António Rosa Pinto, Secretário Fernando Teixeira e Tesoureiro José de Matos Laranjeira.


O primeiro Compromisso –ou Estatutos- da Santa Casa da Misericórdia de Tondela, publicado no Diário do Governo n.º 130, 3.ª série, de 31 de Maio de 1952, tem muito a ver com a sua herança da Sociedade de Beneficência, ou seja, é o garante da continuidade da obra caritativa e assistencial daquela Sociedade, pois o Compromisso refere que “a Santa Casa da Misericórdia de Tondela é uma associação que se propõe prestar assistência aos pobres e indigentes do concelho de Tondela, de harmonia com o espírito tradicional da instituição para a prática da caridade cristã”.


RESUMO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA HOSPITALAR NO CONCELHO DE TONDELA

Como Tondelense (por adopção) e profissional de saúde que fui, tive sempre alguma curiosidade em conhecer a história das instituições ligadas à prestação de cuidados de saúde existentes, nomeadamente a Santa Casa da Misericórdia de Tondela e o seu Hospital de Santa Maria e, depois, o designado "novo" Hospital que teve ao longo dos tempos vários nomes, tais como Hospital da Misericórdia, Hospital Sub-Regional, Hospital Concelhio, Hospital Distrital, Hospital de Cândido de Figueiredo.
A preocupação com a criação de um Hospital que servisse o concelho de Tondela é bastante antiga, mas só a partir 1897, foram dados passos concretos para o efeito, com a criação em Tondela, de uma associação de carácter social, que se organizou com a finalidade de conseguir os meios necessários para pôr em prática essa ideia.

Ao longo de alguns pequenos artigos, que no seu todo correspondem a um trabalho de pesquisa documental que efectuámos durante o ano de 2002 , enquanto membro da Direcção, transmitiremos as conclusões a que chegámos e que de resto foram publicadas num documentário publicado pela Santa Casa da Misericórdia.

Em boa hora este trabalho apareceu, conjuntamente com uma proposta de logótipo da Santa Casa também de nossa autoria, porque os corpos sociais se preparavam na altura para celebrar o Centenário dessa instituição, quando nem sequer tinha completado ainda o seu cinquentenário, como foi demonstrado!

1. A GÉNESE DAS SANTAS CASAS DA MISERICÓRDIA

As Misericórdias ou Santas Casas da Misericórdia são as instituições sociais mais genuinamente portuguesas e mais genuinamente cristãs. Surgem em Portugal no ano de 1498, ano em que Vasco da Gama descobre o caminho marítimo para a Índia.

Alguns historiadores se têm interrogado sobre qual destes acontecimentos foi mais importante para nós: se a descoberta de novas rotas que nos trouxe tantas riquezas, se as Misericórdias que vieram proporcionar uma ajuda moral, espiritual e social aos mais desfavorecidos destes bens, acção esta que se prolongou e prolongará através dos séculos.


Não há certezas absolutas de quem partiu a ideia da

criação da primeira Misericórdia em Portugal, nem isso é relevante. Certo é que, no dia 15 de Agosto do ano de 1498, em Lisboa, nos claustros da Sé, na Capela da Nossa Senhora da Piedade,

designada também por Nossa Senhora da Terra Solta, foi fundada a Irmandade da Misericórdia de Lisboa, a qual serviu de modelo e inspiração à criação de instituições congéneres em várias cidades e vilas de Portugal, do Brasil e em outras partes do mundo aonde os portugueses iam chegando.


Como referiu o Conde de Sabugosa, não é muito importante saber-se se a criação se deve ao monge ou à Rainha, «porque os dois corações generosos e caritativos não disputaram primazias, entrando cada um para a empresa com os elementos de que dispunha. Ele com a sua inteligência organizadora, actividade incansável e paixão ardente. Ela com a sua muita piedade e influência e aquela generosidade que a levava a aplicar às instituições que protegia, as rendas próprias e os bens que obteve de mercê real».


Nós acrescentamos que ambos os fundadores se inspiraram, sem dúvida, nos ensinamentos do Evangelho, pois asprimeiras palavras do Compromisso são de proclamação do Altíssimo: «Eterno, Imenso e Poderoso Deus...». O seu estudo conduz-nos às bem-aventuranças do Sermão da Montanha, nomeadamente à afirmação de Jesus Cristo registada em Mateus 5:7 «Bem aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia». Já as catorze obras de misericórdia expressas no Compromisso reflectem o pensamento Católico, e são divididas em dois capítulos as espirituais (ensinar os simples; dar bom conselho a quem o pede; castigar com caridade os que erram; consolar os tristes desconsolados; perdoar a quem errou; sofrer as injúrias com paciência; rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos) e as corporais (remir os cativos e visitar os presos; curar os enfermos; cobrir os nus; dar de comer aos famintos; dar de beber a quem tem sede; dar pousada aos peregrinos e pobres; enterrar os mortos).


1.1 - A Pré-Misericórdia de Tondela

Foi precursora da Santa Casa da Misericórdia de Tondela, uma Associação Filantrópica designada por Sociedade de Beneficência de Tondela, fundada em 24 de Abril de1897, por iniciativa de Inácio Pereira do Vale, com o objectivo de construir um Hospital para os doentes pobres do concelho.

Para que conheçamos melhor aquilo a que poderemos designar por génese da Misericórdia de Tondela, não resistimos em transcrever aqui o que o ilustre tondelense, Dr. Amadeu Ferraz de Carvalho escreveu em 1908 numa brochura intitulada "Hospital do Concelho de Tondela em Construção":

«Partiu a iniciativa do saudoso tondelense, Ignácio Pereira do Valle, homem duma bondade imperiosa e comunicativa, a quem a prática espontânea, constante, sem desfalecimentos de acções generosas, sempre norteada por um são critério moral, era imposta como que por uma necessidade constitucional da própria natureza. Amando como ninguém a sua terra, tendo uma perfeita intuição das suas necessidades e vivamente condoído pelos horrores com que a doença agrava a triste condição das classes mais desfavorecidas, soube congregar em volta de si um grupo de conterrâneos e de pessoas de família que desde logo compreenderam o alcance e viabilidade do seu plano e viram que a sua execução, uma vez posta em começo, certamente seria ajudada por boas vontades dispersas e caridosas intenções

entorpecidas que o exemplo do seu esforço e tenacidade não deixaria de estimular e atrair a uma acção comum.

Constituída assim a sociedade e recebendo do seu inspirador um vigoroso impulso, meteram, sem delongas, os seus resolutos fundadores mãos à obra e passados poucos anos, senhores de um vasto e adequado trato de terreno, de grande valor, generosamente dado por D. Felícia Falcão, senhora de esmerados dotes, cuja falta tanto deplora a pobreza da vila, e dispondo da soma de alguns contos de réis, produto da subscrição iniciada após a fundação da sociedade, abalançaram-se à realização da primeira parte do seu plano, que felizmente conseguiram, pois à custa daquela quantia e doutros donativos que entretanto foram afluindo, já hoje se acha quase concluído o mais importante dos dois edifícios que fazem parte da construção hospitalar projectada

A primeira reunião da Assembleia Geral da Sociedade de Beneficência de Tondela teve lugar do dia 30 de Maio de 1898 e, em 16 de Julho do mesmo ano, reune, pela primeira vez também a Direcção, para a distribuição dos cargos, tendo sido eleito presidente o Padre Ignácio Pires de Mello.


Decidiram nesta reunião abordar no dia seguinte a Senhora D. Felícia da Conceição de Carvalho Falcão, no sentido de saber se estava decidida em oferecer o terreno para a construção do Hospital. E, no dia seguinte, é lavrada uma acta que deixa transparecer uma enorme alegria, pois a Direcção refere ter sido recebida “de maneira afectuosa e cativante” e que a D. Felícia declarou espontaneamente que oferecia para a construção do Hospital desta vila o seu prédio rústico denominado “Portella”, vulgarmente conhecido por “Campo de Manobras”, no limite desta vila, a partir do nascente com a Viscondessa de Tondella.

De referir que esta grande benemérita, falecida em 1903, lega ainda em testamento, a avultada soma de dois contos de réis para a Sociedade.

Em 1915, no dia 18 de Julho, é inaugurado o belíssimo (ainda hoje) e moderno (então) Hospital do Concelho de Tondela, o Hospital de Santa Maria, que se manteve em funcionamento até à inauguração do novo Hospital, em 4 de Setembro de 1955.


Este é um belo exemplo de como a solidariedade humana e a preocupação com os mais desprotegidos, pode vencer os maiores obstáculos!

Porém, sabe-se que se não é fácil construir um estabelecimento deste género, mais difícil é ainda assegurar o seu funcionamento, sobretudo quando os seus serviços são dirigidos àqueles que pouco ou nada podem pagar, e não recebe qualquer contrapartida do Estado. Foi assim a necessidade de sobrevivência do Hospital com ajudas estatais que levou o presidente da Comissão Administrativa da Sociedade de Beneficência de Tondela, Dr. Jerónimo Lacerda, a propor a transformação da Sociedade numa Misericórdia, atentos às grandes vantagens que a estas Corporações são hoje concedidas pelo Governo, em harmonia com o disposto no Decreto número 15809, publicado no Diário do Governo de 2 de Agosto de 1928.


A Assembleia Geral de 28 de Setembro de 1929, presidida pelo Dr. Eurico José de Gouveia, foi apreciada a proposta de transformação apresentada pelo Doutor Jerónimo Lacerda, com a qual a Assembleia Geral concordou e encarregou a Comissão Administrativa de elaborar os Estatutos da Misericórdia.


Apesar desta deliberação, só em 2 de Maio de 1952, 23 anos mais tarde foi apresentado e aprovado o Compromisso da Santa Casa da Misericórdia de Tondela, pela Comissão Administrativa do Hospital de Santa Maria.


Foi ainda em vida da Sociedade de Beneficência de Tondela, que a Comissão do Hospital de Santa Maria, presidida já por António Rosa Fernandes Pinto, adquiriu um edifício no Caramulo para transformar em Sanatório, destinado ao tratamento dos tuberculosos pobres do concelho, pela quantia de 230 contos. Para o efeito foi concedido em 1951, um subsídio do Ministério do Interior na importância de 130 contos. Este estabelecimento passou a designar-se por Casa de Saúde Fonte dos Castanheiros, situado em Paredes do Guardão, (ou Enfermaria-Abrigo do Hospital de Tondela) num lugar ainda hoje paradisíaco. Grande parte do mobiliário para este Sanatório foi oferecido por vários Beneméritos. Foi inaugurado em 20 de Abril de 1952, pouco tempo antes da criação da Misericórdia.


terça-feira, 7 de junho de 2011

A POLÉMICA - Apontamentos 3



Aos responsáveis pela Ordem dos Enfermeiros:

É bom que não se procure o desprestígio da classe, como aconteceu outrora –por outras razões, como é evidente. Mas veja-se o recente caso do Brasil, que relembro abaixo.


Enfermeiros estão proibidos de prescrever medicamentos

O Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª região, em Brasília, tornou sem efeito a Resolução 272/2002 implantada pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) que permitia que enfermeiros fizessem exames médicos, prescrição de medicamentos e diagnóstico de doenças.

A decisão, válida em todo o território nacional, foi tomada pelo tribunal depois de um mandato de segurança impetrado pelo Sindicato Médico do Rio Grande de Sul (Simers). Os profissionais de enfermagem devem ser orientados pelo Cofen para que não pratiquem atos reservados aos profissionais médicos.

A população deve informar os Conselhos de Medicina, Ministério Público ou órgãos de saúde, caso tenham diagnósticos ou medicamentos prescritos por enfermeiros.”

A POLÉMICA - Apontamentos 2

02.JUN.2011 07:02 / PORTUGAL


Enfermeiros reclamam competência para
receitar medicamentos

Nuno Serra Fernandes
Medicamentos
Foto: dr

A Ordem dos Enfermeiros defende que, tal como acontece em outros países, também eles deviam poder receitar medicamentos. O bastonário dos médicos já disse que «nem pensar».

O objectivo não é substituir um médico por um enfermeiro, mas sim que os enfermeiros possam receitar medicamentos e exames médicos com base em protocolos e regras bem definidas para situações especificas.

A prática já é uma realidade em vários países como Espanha, EUA e Inglaterra, onde a prescrição vai do totalmente livre à prescrição por protocolos.

A noticia é avançada esta quarta-feira pelos jornais Publico e Diário Económico que citam a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Maria Augusta Sousa, que dá o exemplo de um doente crónico que está a ser acompanhado por um enfermeiro e que para prosseguir o tratamento tem de ir a uma consulta para o médico passar uma nova receita médica.

A bastonária pretende desta forma rentabilizar ao máximo as competências de cada profissional de saúde e por isso mostra-se disponível para abordar o assunto com a Ordem dos Médicos.

O tema vai ser debatido esta tarde no 3º congresso da Ordem dos Enfermeiros mas já foi discutido com os partidos, à excepção do Bloco de Esquerda.

Fonte:


A POLÉMICA - Apontamentos

O que diz a imprensa digital...
A Ordem dos Enfermeiros defende que também eles deviam poder prescrever medicamentos. O bastonário dos médicos já disse que «nem pensar». A prática é uma realidade em vários países como Espanha, EUA e Inglaterra.

A proposta vai ser debatida, esta quinta-feira, no III Congresso da Ordem dos Enfermeiros.

O actual Bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, considera a hipótese de os enfermeiros poderem receitar medicamentos "inaceitável" e afirma que é contrária aos "interesses dos doentes".

Em declarações ao jornal Público, José Manuel Silva diz que "até os enfermeiros querem ser seguidos por médicos".

Já a Ordem dos Enfermeiros alega que "os cuidados de saúde não são só cuidados médicos" e pergunta "se o enfermeiro verifica que a terapêutica de um doente crónico está de acordo com a prescrição médica e não há necessidade de reavaliação do diagnóstico, faz sentido que o paciente tenha de ir de novo a uma consulta?".

A proposta pretende que aqueles profissionais de saúde possam receitar medicamentos, exames complementares de diagnóstico e ajudas técnicas, em determinadas circunstâncias.

NC

Fonte:

(http://tvnet.sapo.pt/noticias/detalhes.php?id=67421)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

ENFERMEIROS DOUTORES?!...







Há já mais de dois anos que mantenho o meu silêncio nesta página. Não porque tenha esquecido o objectivo que me levou a criar este blogue, mas porque entretanto me tenho distraído com outras actividades, entre elas a "ajudar" a cuidar dos netos.
Queria dizer que me sinto feliz pelo facto deste Blog ter sido entretanto visitado por mais de 20.000 pessoas! E sei que largas centenas destas pessoas, de vários países, fizeram downloads de algumas ilustrações relacionadas com a Enfermagem. Ainda bem!
Ontem, de visita a Tondela, um amigo, perguntou-me se eu concordava, com o que dizia ser uma pretensão dos enfermeiros, de receitar medicamentos.

Devo dizer que tive oportunidade de ler vários artigos sobre esta temática e vi há dias na TV um representante da Ordem dos Enfermeiros a pronunciar-se sobre a mesma. Fui um colaborador activo para a criação da Ordem. Mea Culpa! Não quis acreditar no que li e ouvi! E, não pude deixar de me lembrar daquilo que muitas vezes ouvi acerca dos então novos enfermeiros, que se preocupavam mais em discutir o que deviam ou não fazer em termos de conteúdos profissionais, do que praticar esses conteúdos que lhes eram impostos pela carreira de enfermagem. - Eles querem é ser doutores!... Ouvíamos dizer a algumas pessoas.
Referiam-se aos enfermeiros que "saíam" das escolas com o grau de bacharel e que depois faziam uma especialidade em enfermagem ou adquiriam, por formação ou por avaliação curricular, o grau de licenciatura. Não a todos, como é evidente! Mas alguns existiam que por serem "doutores"- leia-se licenciados, tentavam passar para o pessoal auxiliar algumas funções importantes da enfermagem, como por exemplo, os cuidados de higiene e mudas de fraldas. E digo importantes porque sempre pensei que não devem ser, salvo raras excepções, delegados esses cuidados no pessoal auxiliar (embora o enfermeiro possa e deva ser ajudado por um auxiliar). Imagine-se um homem ou mulher dependente destes cuidados, mas consciente. Não é muito fácil aceitar o desnudar das suas partes púdicas por estranhos. Mas aceitarão facilmente se for o/a enfermeiro/a porque este conhece ou deve conhecer as técnicas de comunicação que visam a humanização dos cuidados. Isto é bem mais importante que prescrever medicamentos.

O enfermeiro está (ou deve estar) preparado para:
  • fazer diagnósticos de enfermagem (identificando as fontes de dificuldade e as manifestações de dependência do doente);
  • prescrever cuidados de enfermagem, técnicos e relacionais para fazer face aos diagnósticos de enfermagem;
  • executar esses cuidados;
  • fazer a avaliação contínua dos cuidados.
Já os Diagnósticos Clínicos, não são da competência dos enfermeiros, assim como não são e nunca deverão ser, na minha opinião, da sua competência, as prescrições terapêuticas.


Fico estarrecido de pasmo quando uma Ordem que deveria pugnar por uma Enfermagem de Qualidade, vem dizer que "tal como acontece noutros países..." mostrando desconhecer totalmente a realidade da formação dos enfermeiros em Portugal. É evidente que há países onde, infelizmente, os enfermeiros "receitam" medicamentos e exames médicos. E essa prescrição vai do totalmente livre à prescrição por protocolos. Será isso sinal de uma enfermagem de qualidade, ou melhor dizendo, de cuidados de saúde de qualidade? Definitivamente, não!

Todos sabemos que qualquer que seja o protocolo ou a limitação da prescrição, a tendência será mais cedo ou mais tarde, para o "totalmente livre".

Eu gostaria de dizer à Ordem dos Enfermeiros que deveria ser ela a primeira a opor-se a esta pretensão de alguns enfermeiros. Que jamais a Enfermagem portuguesa possa regredir ao passado que eu e outros enfermeiros e médicos mais velhos conhecemos, quando nós, em hospitais concelhios e distritais éramos obrigados a diagnosticar, a prescrever e administrar terapêuticas, por inexistência de médico permanente, tanto na chamada urgência, como mesmo nos serviços de internamento.

Dirá certamente a Ordem e os colegas: Este indivíduo é do século passado, bota de elástico, velho do restelo (...).

É por ser quase tudo isto, que sou totalmente contra essa infeliz pretensão. Mas é também por conhecer as limitações dos nossos conhecimentos científicos na área da medicina, que o afirmo.
Não me basta ter exercido enfermagem durante mais de quatro dezenas de anos, ter passado por todas as categorias da enfermagem desde a base até ao topo máximo da Carreira, nem ao facto de ter estudado e ter sido avaliado, entre outras disciplinas, de Fisiopatologia, de Bioquímica, de Farmacologia e de Terapêutica, não só a nível de formação básica, mas também e sobretudo a nível de uma especialidade de enfermagem, em que a maioria dos professores, eram professores da Faculdade de Medicina, que me sinto capazmente responsável para prescrever medicamentos.

Mas é interessante que alguns enfermeiros justifiquem a sua capacidade para estas prescrições (como tive oportunidade de ler em jornais) comparando-se com os médicos, dizendo que eles usam uma cartilha que os enfermeiros também podem usar (!...)

Têm hoje os enfermeiros um campo de actividade invejável, digno e dignificante, com ferramentas para utilização da metodologia científica na prestação de cuidados curativos, preventivos ou de reabilitação. Mas, tal como noutras profissões - e nesta mais justificada -, é imprescindível trabalhar-se em equipa. Nas verdadeiras equipas cada membro que as constitui tem a sua função.

Nas equipas de prestação de cuidados de saúde o enfermeiro tem papel fundamental, porque é o elemento que mais tempo permanece junto do doente. Melhor conhece o doente e sua família. Basta-lhe a sua função de enfermeiro!
A prescrição terapêutica (medicamentosa) é para o médico. É função dele!